domingo, 16 de setembro de 2007

Paranóia cromática

Hipnotizada, a língua não sentiu o doce.

Nem o amargo ou o apetitoso.

Nem a dor nem a aspereza.

Só viu cores.

Eram tantas e tão vivas que,

desde que despertou da ilusão,

só quer saber de aula de pintura.

domingo, 9 de setembro de 2007

Serpente

O toque parecia macio,
só intuitivamente tomado por rachaduras.
Não creio que eu deva concertá-las.
Mas olhos e dedos enfeitiçados
insistem em devorar e aspiram
todas as fissuras, mesmo sem vê-las.
Não querem possuir nada,
bastam breves momentos de sedução.
Mas são fendas ariscas,
têm medo de se deixarem preencher.
E talvez tenham razão,
pois olhares curiosos e dedos flautistas
poderiam encantar a serpente.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Sonho?

As cores tilintam, todas e tantas,
reconstruindo a forma e a sombra.
Deixam sair a voz - o mesmo timbre, a mesma música.
Só faltou o cheiro para o desejo ser real.

Mas nem na realidade o cheiro se deixa memorizar.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Desejos

prazer em ter o controle sobre si mesmo

o respirar, o sorrir, o sofrer (principalmente, não inclusive)

ilusão divertida de controlar o querer dos outros

e frustração aliviadora de perceber que, no máximo, é sorte